O projeto de promoção da mobilidade elétrica PROMOB-e, por meio da GIZ, lançou estudo sobre o diagnóstico da ciclologística no Brasil que caracteriza as entregas por bicicleta e identifica os principais desafios para a introdução e promoção do uso da bicicleta na logística urbana de última milha. O trabalho foi desenvolvido pelo LABMOB-UFRJ e pela Aliança Bike em parceria com a ABRALOG.
As informações coletadas mostram a perspectiva de grandes players da logística urbana brasileira sobre as entregas por bicicleta. O estudo também tem como missão informar e estimular outras empresas que possuam operação logística a aderirem às entregas por bicicleta, além de contribuir para o embasamento de novas políticas públicas e regulamentações voltadas para a ciclologística.
Os dados foram coletados mediante aplicação de questionário estruturado on-line, respondido por 23 empresas nacionais e internacionais (com operações no Brasil), e entrevista semiestruturada em profundidade com cinco dessas empresas respondentes de modo a apoiar a análise dos dados a partir de uma abordagem qualitativa, apresentando narrativas e experiências de atores do setor. Pelo menos 57% das empresas respondentes são transportadoras ou operadoras logísticas e o restante são embarcadoras.
A maioria dessas empresas são de grande porte com faturamento anual acima de R$ 300 milhões e, entre as principais categorias de produtos entregues na última milha, estão cosméticos, eletrônicos, alimentação, vestuário, medicamentos e bebidas. Cerca de 40% das empresas realizam entregas por bicicleta na última milha e, das que não entregam, pelo menos 64% planejam incluir esse modo de transporte em suas operações.
A maioria das empresas (80%) usa ou planeja usar as bicicletas para entregas de e-commerce. A pesquisa mostra que, nas empresas participantes, as entregas por bicicleta na última milha tiveram um boom a partir de 2019, muitas delas precedidas por experiências-piloto e motivadas pela conexão da imagem da empresa com a sustentabilidade.
Entre as empresas que fazem (ou planejam) entregas por bicicleta, 50% terceirizam essa atividade contratando empresas especializadas em ciclologística em vez de adquirir frota própria ou contratação direta de entregadores-ciclistas. O volume de entregas diárias por bicicleta varia entre 11 e 50 (42%) em distâncias de até 30 quilômetros, indicando o diferencial desse veículo para entregas de pequeno porte e concentradas em áreas urbanas densas. Para 2021, 89% das empresas respondentes que já realizam entregas por bicicleta pretendem ampliar o volume dessas entregas. Além disso, o estudo mapeou um aumento geral do volume de entregas durante a pandemia de COVID-19.
As análises dos dados coletados mostram que ainda existem desafios a superar em diversas frentes relacionadas à ciclologística: (i) desafios específicos do setor (a exemplo da dificuldade em obter licenças de transporte de cargas por bicicleta e da falta de empresas e mão de obra capacitada), (ii) desafios operacionais (como a dependência da densidade das entregas para uma operação eficiente e de pontos de apoio próximos aos ciclistas), (iii) desafios relacionados à falta de conhecimento e informação sobre ciclologística (ausência de dados sobre o setor e veículos e equipamentos disponíveis no mercado) e (iv) desafios urbanos relacionados a políticas públicas (como a falta de regulamentação específica e de infraestrutura cicloviária nas cidades).
Por fim, o estudo propõe uma série de ações que visam trazer soluções para os desafios identificados e que se relacionam também às questões sobre operação, políticas públicas e regulamentação e produção e divulgação intensivas de conhecimento e dados sobre a ciclologística. Devido ao caráter sistêmico e abrangente das dificuldades mapeadas, recomenda-se que as ações sejam pensadas de forma participativa, incentivando o diálogo entre os atores envolvidos na logística urbana e na ciclologística no país.
Acesse aqui o seminário de lançamento do estudo. O trabalho pode ser baixado na biblioteca da PNME.